quinta-feira, 21 de novembro de 2013

querida vovó,

Onze anos atrás, tive um medo terrível de te perder quando você sofreu aquele avc. Foi grave. Nunca mais ouvimos sua voz completar uma frase coesa. Nunca mais pudemos ouvir o seu arrastar de chinelos ao caminhar. Nunca mais sentimos o sabor dos seus temperos. Às vezes tenho a sensação que estamos te perdendo aos poucos. Na comemoração do penta, a senhora já estava em casa. Era aniversário da Marina e também o seu renascimento. Era o primeiro dia em casa da nova vida cheia de limitações. Vida avessa àquela anterior, a dos excessos. 

No ano seguinte, mais um susto. Aquela cirurgia gravíssima de ponte de safena. Foram 10 horas de cirurgia e aquele risco de tudo ir por água abaixo ao colocar o coração pra funcionar de novo. Deu tudo certo. E quando parecia estar tudo bem, veio o câncer. Nossa vida virou do avesso em seis meses. Da descoberta à cirurgia para retirada da mama, em seguida, e a primeira sessão de quimio. Parecia que ali as forças iriam faltar. A senhora ficou carequinha, mas nunca precisou ficar internada depois da quimio. No máximo um enjoozinho aqui outro acolá. Quanta força. Foi a época em que o Jota e o Victor também ficaram carecas. Eram os netos mais novos passando no vestibular. 

Morro de saudade da sua voz, daquele jeito de pentear o nosso cabelo que dava um sono super gostoso, daqueles farofas estrambóticas deliciosas, da sua feijoada (apesar de mamãe fazer uma bem parecida), dos bolos... Me perdoe por ter torcido várias vezes a cara quando ia pra sua casa e a senhora não tirava do Silvio Santos por nada. Hoje vejo que foi um dos meus maiores erros. Mas vô, pare de comprar telesena. Tá provado que ninguém ganha isso. Vó, pare de birra pra usar o balão de oxigênio porque a senhora pode adorar hospital, mas a UDI e o São Domingos vêm a senhora como uma mina de dinheiro. E outra coisa, vó, a sua cadeira de rodas tá com o pneu ótimo, se encher mais, vai explodir.

Só peço que a senhora tenha força nesses seus pulmões cansados e continue, apesar de todo o retrocesso, sendo essa fonte de saúde. E feliz aniversário ♥.

Te amo,
Carolzinha

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