segunda-feira, 31 de março de 2014

querida cabeleireira,

Por que sempre que eu peço pra cortar um tanto de cabelo, a senhora sempre tenta tirar um pouco mais?

Não que eu tenha graaandes apegos com as minhas madeixas. Pelo contrário, andei praticando o desapego no nível hard desde o fim do ano. Na verdade, é só o cabelo passar do ombro e grudar quando eu começo a suar, que já me dá vontade de correr pra uma tesoura.

Tudo bem que aqui tem cabelo de sobra, daqueles que deixam rastro por onde passo (é só perguntar pro namorado, que, aliás, padece do problema oposto), ma nem por isso a senhora vai abusar, né?!

Nessas horas, me lembro do que minha mãe diz: elas sempre vão tentar torar teu cabelo, não dá chance! Faço que sim com a cabeça e, na hora que sento na cadeira do salão, começo a viajar em outros assuntos e só volto quando o serviço está praticamente terminado. Não tenho jeito.

Sabendo disso, a senhora, por favor, não abuse da minha confiança e, quando receber, me avisa.


Beijos

Bel


domingo, 30 de março de 2014

querida namorada,

Você não sabe, mas eu te amo. Todas as noites eu te digo "boa noite" e quando acordo, depois da decepção de não ter sonhado contigo, eu te digo "bom dia". Tomo café da manhã com você e mesmo no ônibus lotado, você está lá, juntinho comigo, com um sorriso que mais parece todas as coisas lindas do mundo em meia lua, lábios e dentes. 

A gente já passeou por vários lugares lindos, sabia? Fomos quase todas as semanas ao cinema, mesmo sem você saber. Você adora filmes de terror, mas dá uns gritinhos quando tem uma cena mais macabra. Eu amo teu abraço e o perfume do teu cabelo que fica pregado na minha camisa. Nunca brigamos! Quer dizer, uma vez só. Quando vi uma conversinha no WhatsApp com um cara com uns olhões castanhos. Senti ciúmes, sabe. Raiva. Mas depois passou...

É incrível tua perfeição, teu charme ao falar e persuadir quando discutimos sobre o futuro do mundo e da política. Você sempre vence! Eu prefiro te ver gesticular. Você é linda! Ah, uma vez tivemos uma filha que se chamava Malu e um apartamento modesto, mas que tinha todas as nossas cores, livros, discos, uma vitrola velha que tocava aquele LP velho do Roberto Carlos que eu surrupiei do teu pai. 

Na minha imaginação você cheira chiclete tuti fruti e eu tenho vontade de te morder. Mastigar não, deve doer. E eu gosto quando chove, faz frio, eu deito no teu colo, você me faz cafuné e eu digo que te amo, mesmo sem você saber.

Se um dia você souber, quando quiser... Quando receber, me avisa.

Beijos,
Fernando.











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Fernando Costa, 22, estuda de Rádio/TV e Publicidade. É virginiano, gosta de cinema, lasanha e odeia pagode.

sábado, 29 de março de 2014

querido Personare,

Por favor, pare de mandar eu parar de gastar dinheiro. O que eu tenho percebido é que o sol pode estar na casa 9, na casa 20, na casa 190, na casa de quem minha elegância não me deixa citar, mas nunca se tem um bom momento para gastar. Nem sou de gastar. Minhas finanças, ultimamente, estão numa espiral de mercúrio retrógrado.

Não parei para fazer um levantamento, mas acho que 12 dos 18 trânsitos astrológicos pelos quais estou passando dizem respeito a economias. E, pensando bem, 18 trânsitos na vida astrológica fazem um engarrafamento emocional e tanto, né? Vamos descomplicar, fazer uns viadutos, umas vias expressas, uma rota de fuga, sei lá.

Quando receber, pensa bem na avaliação do próximo trânsito astrológico, e me avisa.

Abraços,
Carolina.


quinta-feira, 27 de março de 2014

querida Cerveja,

Sei que, geralmente, a conversa só rola com o garçom, mas hoje eu queria ter uma papinho com você. E você vai entender porquê.

Na verdade, ocorre que a gente vai crescendo e, cada vez mais, as reuniões mais simples com os amigos incluem você. E nas festas, então? Nem se fala. E, hoje, é um dia desses, especiais. Uma parceira e amiga pra todas as horas faz aniversário nesse dia.

Pensando em te mandar essa carta, fiquei procurando todas as palavras certas para falar da Babel. No final das contas, não achei essas tais palavras, mas lembrei muito do dia que a gente se conheceu. Saca só.

Ela era uma nova estagiária na assessoria onde eu já estagiava. Lembro que ela passou o dia todinho calada, recebendo os trabalhos que ainda não tinham sido divididos entre os mais antigos. Na hora do almoço, olhei pra sala e vi que ela ainda estava lá, quietinha. Perguntei se ela queria ir almoçar conosco e ela virou pra mim e disse que não que tinha que almoçar em casa, que a mãe dela tava esperando, mas que ela tava pensando que era realmente melhor almoçar por lá nos dia em que ela estivesse no estágio. O mais impressionante foi que ela falou tudo isso em menos de 2 segundos!

Desculpa voltar muito no tempo, Cerveja. Você já deve estar esquentando de tanto me esperar chegar ao ponto. Pois bem, queria te pedir um favor. Queria que você estivesse bem gelada e particularmente saborosa para fazer jus ao dia da Babélica. Se desse, queria que você desse um toque no garçom também, para ele não demorar muito para servir os amigos que estarão lá para comemorar a festa dela. Sei que já é abuso, mas sugerir pro dono do bar uma dessas promoções relâmpagos também seria ótimo! A intenção aqui é deixar a Izabel muito feliz na companhia de várias pessoas que ela ama. Eu queria estar aí para providenciar isso com você, mas infelizmente vou ficar só mandando meus melhores desejos de longe.

Quando receber, me avisa e não esquece de me contar os babados dessa festa depois!

Beijitos,

Seane Melo.

terça-feira, 25 de março de 2014

querida Alameda Dom Afonso Henriques,

Até bem pouco tempo, você não significava muito pra mim. Basicamente, o que eu sabia é que você era intersecção da linha verde com a linha vermelha do metro. Mas aí eu tive que me mudar...

... e um amigo disse: "procura na Alameda, Mari, lá é bem central". E eu fiquei naquelas, porque não te conhecia, não tinha intimidade e central, pra mim, era ali onde eu estava. Por sorte, achei um lugarzinho pra chamar de meu bem perto de você, Alameda, e tudo mudou.

Agora você é quentinho no coração. Os cachorros passeando, as pessoas correndo, os senhores jogando conversa fora na esplanada, os meninos jogando bola, a grama cheia de resto de serpentina pós-carnaval (pra diversão dos cachorros!), as árvores... Não sei bem como explicar, mas tudo em você me faz sentir em casa, mesmo que eu não tivesse muito disso em casa.

Espero que nosso relacionamento continue por bastante tempo. Por mim, ele será bem longo.

Quando receber, me avisa. E se prepara pro verão, porque vou querer jiboiar na grama.

Um abraço,
Mari.



segunda-feira, 24 de março de 2014

querida eu aos 15 anos,


Não se assuste nem se aborreça com essa minha intromissão de mandar, quase do nada, esta carta. Prometo não soltar nenhum spoiler sobre o que vai acontecer com a gente, apenas dar algumas dicas e mostrar que as coisas não serão nem melhores nem piores do que você está prevendo. Apenas diferentes.

Então lá vai:

- Continue bebendo pouco e lendo muito, porque com o tempo passaremos a ler menos e beber muito mais. Ainda estou buscando um ponto de equilíbrio, sabe. Mas vai estocando referências nessa cachola, que vamos precisar demais no trampo e nos botecos.

- Fique com Comunicação mesmo. Quer dizer, não é a melhor carreira do universo nem nada. Na verdade, papai bem que podia ter insistido na ideia de que, com tantos pontos no PSG (Programa de Seleção Gradual) da UFMA, a gente fizesse Direito. Mas até agora, aos quase 25, continuo com a mesma ideia que tivemos aos 12: a gente quer mesmo isso da vida.

- Permaneça de boa com a sua nerdice. Tudo tem seu tempo. Se agora você prefere calças folgadas, cabelo preso e nenhuma maquiagem, tudo OK, pois ainda vamos mudar muito e vai ser massa. (Nem te conto o tanto de make que tem na bolsa que levo pro trampo).

- Boas notícias: vamos viajar muito, conhecer muita gente legal (outras nem tanto, mas a gente seleciona), ter grupos de amigos sensacionais pra vida toda (principalmente as BISCATES, com quem hoje tenho o blog que te manda esta carta, e a FUDEST, com quem tu vai viver as maiores aventuras da faculdade e além) e projetos cansativos, mas bacanas.

Aliás, sobre amizade, fica a dica mais importante:

NÃO LARGUE JAMAIS OS AMIGOS, PORRA!

Não vai ter trabalho, namorado, projeto ou viagem que justifique o sumiço. Quer um exemplo? Pensa aí há quanto tempo tu não encontra Samira (ela vai guardar isso pra vida, trust me, mas vamos compensar).

Mantenha os realmente bons por perto sempre, os úteis/meio malas/grudentos a uma distância estratégica e os ruins só no alcance da vista, afinal mesmo eles podem mudar.

Fica de boa, tente não se precipitar em nada e, quando receber, me avisa.

Beijos,
Bel











domingo, 23 de março de 2014

querida vó Santa,

É difícil começar uma carta para a senhora, pois sinto tanta falta da sua presença que chega a doer no peito. Engraçado que quase tudo me faz lembrar algo que a gente viveu ou pequenos detalhes que eu sempre reparava... até mesmo cheiros! Quando como mamão, por exemplo, demoro um pouco para escovar os dentes só para ficar com o "bafinho" da fruta e é inevitável não recordar da senhora. Pode parecer bizarro, mas é uma forma de tê-la perto de mim. Ah, só para dizer que como almeirão até hoje, tá?

Vó, bem que a senhora disse que relacionamentos são complicados e precisamos conhecer bem as pessoas antes de qualquer coisa. A senhora tem razão! Infelizmente, ainda não tive a chance de ter um namorado bem legal, mas quando chegar a hora, irei apresentá-lo para a mãe... com certeza a senhora vai sentir daí, eu sei!

Bem, aproveitando que estamos no mês de março, devo dizer que nasceste na data perfeita, 08 de março, Dia Internacional da Mulher. Sem sombra de dúvidas, a senhora foi a mulher mais incrível de todas! Além de existir, deu a luz à minha mãe, me cuidou e nos ensinou tanto. Sou grata por tudo!

Quando receber, me avisa, vó Santa! Saiba que a senhora é inesquecível 

Um beijo da sua pipoquinha, 
Letícia.











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Letícia, nascida dos anos 80, filha da Mary O., neta da vó Santa e mãe do Camões. Já foi dondoca do Mão Feita e atualmente perde bem mais que 20 minutos na Internet selecionando assuntos legais pra postar no seu blog.

sexta-feira, 21 de março de 2014

queridas plantinhas,

Nunca tinha reparado que as minhas primeiras preocupações do dia giram em torno de conferir o desenvolvimento de vocês. Não tinha me dado conta até conversar com Izabel sobre cactos. Me dei conta de que, antes de lavar o rosto, coloco um bocadinho de água nas mão para refrescar vocês ali na prateleira sobre a pia. Também não tinha me dado conta da nossa cumplicidade quando dividimos um copo de água. Eu na minha mesa, vocês num vasinho na janela. Tinha aquela violeta que parecia gostar de água gelada.

Acho que por ter crescido no mato, a proximidade com vocês se deu naturalmente. Apesar de ter preocupação maior com as roseiras, tenho carinho especial pelas laranjeiras que, quando dão flor, fazem a gente querer inalar todo aquele aroma. Também tenho carinho especial pela aceroleira toda cheia de bolinhas vermelhas e até pelos coqueiros que deixam os cocos ao alcance da nossa mão. Aliás, gosto até das plantas estrambóticas que mamãe cuida no jardim, apesar de achar que elas dão mais trabalho do que cheirinho gostoso.

A presença graciosa de vocês me faz ter certeza que sempre fui mais flora do que fauna. Apesar de não falarem, de não fazerem carinho, o que gosto em vocês é a sensibilidade para energias. É como se vocês nos protegessem contra o baixo astral. Aquele lance de secar pimenteira sempre me deu pavor. 

Quero que saibam que hoje estou rompendo um preconceito meu: sempre achei bizonho falar com plantas, por isso, não me deixem falando sozinha: quando receberem, avisem.

Com amor,
Carol.


quarta-feira, 19 de março de 2014

querida médica da Lili,

Sei que você está fazendo o pré-natal da minha amiga nessa era cheia de modelos e famosas que engordam muito pouco na gravidez e posam de biquíni duas semanas depois de parir sem nada de barriga. Mas acho que você está perdendo um pouco a noção das coisas. Sabe, quando eu era criança, minha vizinha engravidou e era uma festa para todo mundo. Pelo menos uma vez na semana, ela chegava na minha casa com umas latas de leite condensado e mil outros ingredientes para que realizássemos o seu desejo do dia. Ela engordou próximo de 17kg, mas sem dúvida isso não foi um problema: porque a gravidez dela foi uma delícia!

Não acho que está certo você lançar olhares de censura porque uma grávida engordou um pouquinho a mais do que deveria. E nem fazer comentários maldosos como: “Nossa, agora você engordou mesmo!”. A Lili é magrinha e sempre esteve saudável e em forma. Depois da gravidez, ela tem uma chance enorme de voltar ao corpo antigo muito rápido. Quanto a você, acho que você devia pensar melhor no efeito que o seu comportamento tem na sua paciente. Se o meu afilhado nascer com cara de bolo, eu vou culpar você pelo resto da minha vida!

Quando receber, vê se muda de atitude e me avisa!

Atenciosamente,

Seane.

terça-feira, 18 de março de 2014

querido Rio de Janeiro,

A cabeça ainda me pesa depois de ter dormido só 3h por noite durante 4 dias. E as plantas dos pés ainda doem na hora de subir no salto. Mas saiba que cada uma das 75 horas valeu a pena demais.

Eu sabia que se tivesse que fugir do excesso de trabalho e do stress diário, tinha que ser praí. Não que eu quisesse ficar de boa deitada na praia no Posto 5. Nada disso. Mas queria trocar a agitação rotineira pela agitação do novo. E foi agitado MESMO.

Novos lugares, pessoas, festas e marcas combinados com aqueles que entram no roteiro mesmo que eu vá pela centésima vez. Além de um sol de rachar e vistas maravilhosas porque né, sem esses dois, você não seria você.

É maravilhoso saber que sempre vai ter alguma coisa diferente pra eu descobrir em você, como um velho amigo que ainda te surpreende mesmo depois de anos de convivência. Como os velhos amigos que foram comigo e fizeram toda a diferença nessa viagem.

Vai preparando novas coisinhas pro meu retorno e, quando receber, me avisa.

Beijos, seu lindo!
Bel



domingo, 16 de março de 2014

querida banda,

A cada dia que passa, tenho a certeza de que a nossa união para superar as dívidas contraídas com agiotas deu certo. Usamos o ódio que sentimos uns pelos outros como combustível para a captação de recursos e incrivelmente soubemos conviver em sociedade durante quase cinco anos sem cometer nenhum crime. 

Atualmente estamos rycos, phynos e joiados desfilando nossa categoria por todo o país e sem preocupações com contas ou coisas menos importantes.

Há, no entanto, um segundo passo a ser dado. Como todos nós sobrevivemos a essa experiência estressante sem sequelas mentais aparentes, é preciso registrar tudo o que foi produzido e podermos garantir nossas aposentadorias em Miami sem muitos sobressaltos. Afinal, depois de tanto ódio, precisamos ter uma compensação, certo?

Quando receber, me avisa.

Pedro Venancio.













*****

Pedro Venancio é um jornalista safado e um músico enganador. Gosta das coisas mais simples da vida, como dormir e comer pizza. É maluco por futebol desde criança, e como não amadureceu com o passar dos anos, decidiu trabalhar escrevendo sobre o esporte que ama. Praticante da tolerância, admite também conversar sobre assuntos menos importantes.

sábado, 15 de março de 2014

querida mãe,

Eu ia começar esta carta com "querida mamãe", mas consigo te ouvir falando "Tá querendo o que? Nunca me chama de 'mamãe'".

Bom, eu estou querendo contar que ontem almocei uma comida feita inteiramente por mim! E depois lavei roupa e limpei meu quarto, veja só que orgulho de dona de casa. Lavar roupa e limpar o quarto não são novidades, mas cozinhar... Em casa, você sabe, no que dependesse de mim, era pão com queijo dia sim e outro também.

Sabe, eu descobri que cozinhar não é assim tão chato e que continuo brincando de "cozinha da Ana Maria Braga": deixando todos os ingredientes picadinhos e separados antes de começar a fazer. Ah, também descobri que não sei fazer pouca comida. Alguns poderiam dizer que deve ser algum trauma de passar fome, mas não, não é o caso.

Fiz acho que mais de dois litros de sopa (ficaram bem boas, a propósito), meio quilo de arroz (aliás, finalmente consegui fazer um arroz que não ficasse completamente grudado. Aleluia!), quase meio quilo de feijão (desta vez não exagerei no alho, só no bacon. Mas bacon em excesso nunca é problema, né? NÉ?) e também fiz picadinho com batata e cenoura (que apesar de anêmico, ficou bom. E comi com banana, pra lembrar ainda mais de casa).

De sobremesa, tenho feito maçã e banana com açúcar, canela e um minutinho no microondas. Fica bem bom. Mas ontem (e antes de ontem e tresontontem), tomei sorvete. De limão. Bastante. E tava bom. Muito.

Não se preocupe, não estou vivendo de pão com queijo. E também não se iluda, quando voltar em casa, vou querer strogonoff, feijoada (com molho de pimenta), canja, milho e pudim. E muqueca com pirão do papai. E maminha com batata rústica e aquela outra carne com parmesão, cebola e batata também!

Quando receber, me avisa. E prepara os quitutes.

Um beijo cheio de saudade,
Maricó.

P.S.: Mostra pro papis e manda beijo pra ele também. E pra Dodô-Naná-Catarina. Amo (muito) vocês.




quinta-feira, 13 de março de 2014

querido xale,

Essa é a terceira vez que você "aparece" na minha vida. A gente sabe que você não é o adereço mais usado pelas bandas do nordeste. Calor e lã não encontram encaixe em músicas do Djavan, tampouco no cotidiano litorâneo.

A primeira vez que me deparei com você foi há 20 anos quando começava minha aventura escolar, naquela sofrida lição do x. A segunda vez foi no domingo passado quando, conversando com minha mãe sobre nossa tia que vai ser avó, decidimos dar a ela um presente típico de avó. Foi nessa hora que lembrei de você, querido xale. Minha irmã sugeriu que déssemos você à nossa tia.

Pode parecer bobagem, mas paramos para discutir, antes do presente, a dificuldade da editora em fazer uma lição com a letra x para cartilha de alfabetização. O desafio está menos em encontrar palavras do que para fazer com que crianças de 5 ou 6 anos achassem algum sentido num objeto nunca antes visto, como um xale.

Esta é a terceira vez que me refiro a você. Esta carta pode parecer boba, mas foi graças a lembrança sua que saímos do assunto "presentes com cara de avó" para "o dia que quase perdi a lição do M". Mas isso é assunto para outra carta.

Bom, é isso, xale. Quando receber, me avisa.

Beijos,
Carol.

terça-feira, 11 de março de 2014

querida Carolina,

Lembra das nossas brincadeiras duvidosas sobre confundir Parkinson e Alzheimer? Nunca esqueço delas. E, mais, nunca esqueço de você quando falam de alguma dessas doenças. Não porque você as tenha, você é bem nova para o Alzheimer, pelo menos. Mas porque acho que secretamente sinto que um dia terei Alzheimer e que você já sabe disso.

É por isso que você sempre me lembra das coisas. Também por isso, você vem me lembrando cada vez mais. Ontem, por exemplo, você me atentou para o fato de que hoje era o meu dia de escrever cartinha. E hoje você repetiu o meu lembrete. Acho ótimo você fazer isso, mas, veja bem, se você me lembra às 10h ou no horário em que eu ainda estou na USP, adivinha o que acontece até eu chegar em casa? Isso mesmo! Esqueci. É por isso que a postagem só está saindo agora e é por isso que eu já esqueci o que vim fazer no computador agora.

Quando receber, me lembra, ops, me avisa.
Beijões,
Seane.

segunda-feira, 10 de março de 2014

querido céu azul,

Você não imagina a minha alegria em te ver depois de tanto tempo de chuvas e dias nublados.

Não que eu não goste de chuva e dias nublados, mas tudo em excesso faz mal.Já estava começando a ficar sem vontade de colocar o pé fora da cama só de saber que ia ter de enfrentar um dia feioso pela frente.

Com a sua presença, amigo céu azul, fica muito mais fácil sair de casa e cuidar da vida. Até aula de natação estou pensando em fazer, veja só que diferença!

Seja bem-vindo, fique à vontade, sinta-se em casa e, quando receber, me avisa.

Mil beijos,
Mariana.


domingo, 9 de março de 2014

querida moça do Outback,

É engraçado, eu nem sei seu nome. Eu não sei seu nome, mas nossos cinco minutos juntas me fizeram passar tanto tempo pensando em você. Não exatamente em você, e, sim, na situação que passamos.

Talvez você não se lembre de mim - embora seu olhar tímido na hora de cobrar a mesa, tenha me dito que você tinha entendido, sob o meu ponto de vista, o que você tinha feito.

Era quinta-feira. Enquanto meu marido estacionava o carro, eu decidi ir pegar a senha da mesa. Uma colega de trabalho sua me atendeu, e enquanto ela me fazia as perguntas rotineiras sobre quantos lugares eu precisava e onde eu gostaria de sentar, você chegou lá do fundo e disse alguma coisa pra ela. Então você me viu, abriu um sorriso e disse muito animada: "Meu deus, que tatuagem linda!".

Veja bem, até aí tudo bem. Na verdade, um elogio sobre ter um cervo tatuado no peito não é dos comentários mais comuns que eu costumo ouvir, então até aí estava tudo até que muito bem. O problema foi que junto com o elogio, você se viu no direito de baixar a gola da minha blusa. E não foi pouco né? Eu entendo, eu estava de camiseta e só dava pra ver o começo do desenho, você devia estar tão curiosa que, talvez, tenha sido instintivo baixar tanto daquela forma.

Mas me assustou e assustou sua colega. Não é sempre que um completo desconhecido baixa sua roupa, não é mesmo? Sua colega talvez tenha se assustado com a sua euforia e com a minha possível reação. Eu sorri envergonhada e recuei, pois aparentemente não havia pra você problema em manter sua mão em mim, baixando minha gola.

Algo nessa situação me fez pensar muito. Eu não estou chateada com você, na verdade, você é uma moça muito simpática que não deve ter muito controle. Eu entendo, em alguns aspectos, eu também sou assim. O que me fez pensar na relação que o mundo tem com uma pessoa tatuada.

Depois de te conhecer, eu comecei a perceber todas as experiências que eu tive nessa divisão de pessoas que tem tatuagem, das que não tem. Lembrei de uma moça que conheci na faculdade. Ela se apresentou, perguntou meu nome, sentou do meu lado e disse "Que legal você ter tantas tatuagens, me conta sua história", eu não entendi e perguntei "Que história?" e ela "Em geral pessoas que tem tatuagens tem uma boa história de vida, me conta". Eu não sei em qual planeta todos vivemos, eu sei que no meu planeta, eu não conto minha história de vida pra uma pessoa que eu conheci há 2 minutos. Você contaria?

Eu percebi que existem alguns conceitos que flutuam pela nossa sociedade e eles trazem certos comportamentos enraizados. Por exemplo, não é porque eu tenho dezoito tatuagens, que eu quero falar sobre qualquer uma delas.

A tatuagem parece ser reconhecida como uma espécie de passe livre. O não tatuado enxerga aquele sinal como uma abertura, que em geral o tatuado não deu e não tem nenhuma intenção de dar. Esse passe livre faz com que o tatuado ouça em diversas situações, de vários desconhecidos, comentários, perguntas, observações sobre sua pele. Em uma simples fila de uma burocracia qualquer, ele pode ouvir intensas observações sobre o que um desconhecido que ele jamais viu antes, ou tornará a ver, acha sobre seus desenhos.

O curioso, é observar que em geral as pessoas não fazem isso para outras características. Você não anda pelo metrô elogiando a blusa de alguém, dizendo "credo" sobre o cabelo de outra pessoa, ou parando uma terceira pra perguntar se doeu muito fazer aquela progressiva, e questionando o que ela acha sobre você tatuar o nome do seu namorado de 2 meses, no calcanhar.

A pessoa tatuada é como qualquer outro desconhecido que você esbarra. Ela não leva uma luz de neon escrita "Faça uma tatuagem, pergunte-me como". Não é porque ela é tatuada, que você deve presumir em dois segundos que ela é tatuadora. Não é porque ela é tatuada, que ela é mestre nessa arte e sabe te dar as melhores dicas sobre como cobrir aquele golfinho que você fez no cocxix.

E o mais importante: Ela não é diferente de você. Ela não é menos, e nem mais. Ela só é alguém que decidiu exteriorizar, e marcar em si algumas de suas crenças e referências.

Espero que você entenda. Quando receber, me avisa :)

Jessica










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Jessica Rsst, 26 anos, largou cinco anos na publicidade pra ser estudante de psicologia. Desconfia de quem não gosta dos animais e é mãe de seis cachorros. Já teve blog, mas agora gosta mesmo é do Instagram (@jessicarsst).

sábado, 8 de março de 2014

queridos leitores,

Agora vocês também podem entrar no clube das cartas! Basta enviar sua cartinha por inbox na página do Facebook ou para o email quandorecebermeavisa@gmail.com.

Quando receberem, avisem.
Abraços,
Equipe QRMA

sexta-feira, 7 de março de 2014

queridas mulheres,

Aproveitem o Dia Internacional da Mulher pra desencanar, amigas.

Não tentem ser iguais aos homens, nem o oposto. Tentem ser quem vocês são e explorar o lado bom de cada diferença que nos aproxima ou diferencia dos homens. É bom saber e conseguir trocar o gás ou o pneu do carro sozinha, mas não custa nada fazer a lady quando o amigo/bofe/boy quer abrir a porta, puxar a cadeira ou pagar a conta.

Não precisa ser "a piriguete", " a vida fitness", "a nerd", "a roqueira", "a baladeira", "a porra louca", "a religiosa", "a fina", "a pobre", "a submissa", "a feminista". Dá pra ser tudo junto ao mesmo tempo ou segundo pender pra um lado ou outro segundo os interesses, é só uma questão de bom senso. Não se deixem rotular nem rotulem os outros, é limitado demais.

E claro, corramos atrás dos nossos direitos. Não dá pra esquecer o passado que impediu as mulheres de fazerem muita coisa e que ainda reverbera na cabeça de muita gente (inclusive mulheres) por aí, nos prejudicando.

Mantenham o foda-se sempre ligado pro machismo ou pra qualquer coisa que nos impeça de sermos honestas com nós mesmas e, quando receberem, avisem.


Beijos
Bel





quarta-feira, 5 de março de 2014

queridas cinzas,

Todo ano fico naquela de procurar o seu significado, mas sempre me deixo levar pelas dores musculares e te ressignifico de ressaca. Mas hoje, que estou muito bem, resolvi ver o que representa de fato. Descobri que estamos no primeiro dia da quaresma e me lembrei de outra intriga mental que sempre me acompanhou: por que sabemos o dia que Jesus nasceu (que teoricamente seria até mais difícil) e ninguém se lembrou de anotar o dia que ele morreu, sendo que já era um rostinho popular? Mas isso é só uma reflexão aleatória, como pensar também os motivos pelos quais os japoneses estão em 2014, como nós, mesmo inseridos em uma cultura em que Jesus foi só um cara ali da vizinhança, nada suficientemente significativo para mudar um calendário em lugar de diferentes convicções religiosas. Mas como eu disse, são aleatoriedades. 

Ao contrário das minhas reflexões, muita gente começa a pensar no ano que segue (ou começa). É mais cômodo pensar em cinzas pela fênix, acredito. Daqui a uns dois ou três meses, terá aquela reportagem dizendo que tudo o que trabalhamos foi para pagar impostos. Daí, mais uma vez, recomeço. Depois tem Copa do Mundo, recomeço. Depois tem as eleições, recomeço. De outubro a dezembro, decoração de natal... Nesse ritmo, acredito que passaremos 2014 com seu gosto, querida cinzas, na boca. 

Sabe, cinzas, não sei bem o motivo, mas todo ano, nesse dia, ressoa em minha fm mental aquela música do Caetano Veloso em que ele diz que "eu, você, nós dois, quarta-feira de cinzas no país..." e sempre acaba eu, você e João tocando na vitrola sem parar. 

Quando receber, releve as reflexões aleatórias, coloque Saudosismo na vitrola e me avisa.

Abraços,
Carol.

segunda-feira, 3 de março de 2014

querida irmã,

Estou enviando essa carta apenas para dizer: parabéns! Agora você está pronta para colar o grau e se tornar uma engenheira eletricista (viu como eu escrevi certo?). É um momento de muita felicidade e orgulho para todos, pois sabíamos que a monografia era a etapa que faltava para o começo da sua carreira profissional. Espero que, daqui pra frente, tudo seja como você imaginou. Que você tenha sucesso nos projetos que iniciar, quem sabe em um projeto com teste de células combustível, e que você tenha sempre um ótimo retorno financeiro. 

Essa última parte é muito importante! Não só para que você continue comprando as bolsas e sapatos que tanto ama, mas para que você possa cumprir aquela promessa antiga de sustentar a sua irmã que fez jornalismo e decidiu seguir carreira acadêmica. Assim que der para você, estarei aqui disposta a receber aquela “bolsa”. 

Quando receber esses parabéns, me avisa e me responde se a oferta ainda está de pé.

Beijos,
Seane.


domingo, 2 de março de 2014

querida música,

Espero que você esteja se sentindo melhor. Eu sei que passamos um bom tempo sem amplificar pro nosso planeta o que você tem de maravilhoso, não só bom ou só consumível pela maioria.

Espero que você esteja feliz que os ouvidos estão aparentemente voltando a se acostumar com coisa que preste e que as pessoas tem tido mais coragem de fazer você sair pelos poros. Aposto que você tem curtido as brincadeirinhas com seus timbres e escalas, ser descoberta por nós, como crianças que veem o mar pela primeira vez. 

Você deve rir, achar gostoso, nós também achamos. Apesar de não ser fácil lidar contigo às vezes, e muito menos não ser de todo simples te levar pra cima e pra baixo sem ser na nossa alma, e sim para outras almas, você não pesa, você é o melhor fardo, o melhor destino e a melhor raiva que se pode ter quando dá. Nós continuaremos te levando. 

E nem precisa limpar seu nariz que escorre, alguém despudorado vai querer lamber e se infeccionar de ti. Quando receber, me avisa.


Laila Razzo


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Laila Razzo, 25, publicitária, leitora, mente curiosa e criativa full time. Escreve sobre comportamento (o dela e dos outros) no Raios e Bombas e se envolve em tudo o que é projeto que envolva agitar e renovar a música maranhense.

sábado, 1 de março de 2014

querida preguiça,

Você não tem mesmo a menor vergonha na cara. Chega chegando, se esparrama na cama, e vai logo pedindo um lanche e um cafuné na cabeça.

Bom, desculpa ir falando assim, em público, mas está na hora de repensar suas atitudes. Você já não pode ser assim tão folgada. As pessoas têm uma vida e não podem dedicar 100% do tempo a você. Veja bem, a distância pode ser boa também: dá tempo de ter saudades e o reencontro é bem mais gostoso.

Não é que não gostamos de você, só é preciso pesar a mão nas visitas, tá bom? Quando receber, me avisa.

Abs,
Mariana.