sábado, 31 de maio de 2014

querida massa de ar polar,

Não apareça mais pelas bandas de São Paulo, é sério. Eu não te quero aqui e andei conversando com umas pessoas que dizem a mesma coisa.

Eu poderia dizer que não é nada pessoal, mas é sim. Não é questão de afinidade. É que você dificulta bastante a nossa vida quando faz as temperaturas baixarem tanto assim e quando traz esse seu amigo "tempo seco". 

Fiquei a semana inteira tentando acordar cedo e adivinha? Não consegui, porque, sinceramente, quando você aparece por aqui só dá vontade de ficar embaixo das cobertas me fingindo de morta.

Então, não me leve a mal e tente visitar outras esquinas. Quando receber, nem precisa avisar se estiver bem longe.

Saudações,
Seane.


quinta-feira, 29 de maio de 2014

queridas pombas,

Antes de mais nada, vamos deixar claro que o "queridas" é só por uma questão de padronização. Meu problema com não é nem com o fato de vocês serem ratos alados. Bom, até é, mas não é o motivo desta carta.

Ultimamente, tenho visto um monte de pombas atropeladas e eu não consigo mais nem ter pena, sabem por quê? Porque vocês são bichos que sabem voar. E bichos que sabem voar não deveriam morrer atropelados!

Vocês sabem a quantidade de pessoas que gostariam de poder voar? Chuto que: todas! Vocês, que podem voar, preferem ficar dando micropassinhos e ciscando no meio da rua. Estúpidas!

Deixem de ser tão gulosas e parem de ciscar a todo minuto. Ou, pelo menos, sejam mais espertas e cisquem nas calçadas.

Quando receberem, me avisem. E, por favor, levantem voo.

Atenciosamente,
Mariana.


segunda-feira, 26 de maio de 2014

queridos Rolling Stones

Vocês não fazem I-DEI-A da inveja que eu estou de Mariana porque daqui a 3 dias ela vai ver vocês ao vivo no Rock in Rio Lisboa. Como eu queria assistir a esse show em Portugal! Ou aqui mesmo no Brasil, que seja!

Não pude estar no show épico que você fizeram no Rio, mas vi tudo pela TV morrendo de arrependimento de não ter vendido um rim pra ir (OK, talvez eu vendesse meu rim pra ver o Led Zepellin, mas por vocês talvez eu vendesse o rim de alguém).

É justamente por vocês serem a segunda banda velha que eu mais gosto (depois, de novo, do Led, que não volta mais, pelo visto e ainda bem) e ainda estarem na ativa que eu preciso sacar vocês ao vivo, gente! Vai saber até quando o Keith Richards se aguenta em pé ou o Mick Jagger consegue saltitar e correr dum lado pro outro como se tivesse as calças on fire.

Fazendo ou não 50 shows, ao menos mais um showzinho no Brasil tem que rolar, né?

Vão arrumando as malas, preparando a viagem e, quando receberem, avisem.


Beijos,
Bel





domingo, 25 de maio de 2014

querido universo perpendicular ao qual eu pertenço,

Eu sei que o meu pedido é meio impossível, mas vou pedir assim mesmo. Você se lembra daquele dia, em 1999, que você se chocou com este universo que forma um ângulo de 90 graus com você? Pois é; nesse dia você deixou cair uma pessoinha bem pequenininha. Por favor, dê a volta e volte para buscá-la, porque essa pessoa sou eu.

Não me sinto tão bem aqui quanto eu me sentiria aí. As pessoas daqui são diferentes, muito sérias, e acham que eu sou meio aleatória. A verdade é que existe um imenso vazio dentro de mim, que tenho certeza que nunca será preenchido aqui.

Possuo uma necessidade imensa de ficar pulando de um lugar para o outro, fazendo coisas diferentes o tempo todo, porque nada neste universo me satisfaz por inteiro. E fico me perguntando como seria a minha vida se eu nunca tivesse chegado aqui, se todas as pessoas fossem como eu.

Se existe um propósito para isso, se você tinha algum plano em mente quando me trouxe pra cá, ao menos me diga! Seria um grande consolo saber que houve um motivo para isso ter acontecido. E eu ficaria muito feliz em descobrir que não fui simplesmente esquecida.

Escrevo porque sei que você pode me ouvir. Afinal, eu pertenço a você. E isso faz com que tenhamos um elo, uma ligação que nunca vai deixar de existir. Também sei que você sente a minha falta, pois sou uma parte de você. E toda noite, quando fecho os olhos, posso ver suas estrelas cadentes riscando o céu; sem nunca perder a esperança de que, um dia, você volte para me buscar.

Quando receber, me avisa.

Ana Carolina Silva Lima.












*****
Ana Carolina Silva Lima tem 14 anos e já pensou em seguir mil carreiras. Sua primeira missão era salvar a Amazônia. Atualmente é uma devoradora de livros e passa o tempo livre tentando não pensar em matemática.

sábado, 24 de maio de 2014

querida chuva,

Quando você chega pela primeira vez, meu coração se enche de felicidade, como quem recebe um amigo querido que está de passagem rápida. Mas quando você amanhece e anoitece por aqui se torna aquela visita mala que ocupa todos os espaços, até o nosso juizo.

Que tal dar um tempinho para a gente criar uma saudade de você? Quando você chega de surpresa no meio da tarde de sábado depois de dias sem dar as caras, tudo fica mais legal. Mas quando você chega para ficar o fim de semana inteiro, sufoca a gente.

Quando receber, avisa, mas não precisa ser já já.

Beijos,
Carol


quinta-feira, 22 de maio de 2014

querida Tamarine,

Estava esperando um momento especial para escrever uma cartinha para você, mas esta semana foi decisiva para me fazer sentir a urgência de te escrever.

Obrigada por ter tentado de todas as formas me dar um dia especial. Por ter encomendado bolo de castanha com beijinho da padaria que fica do lado do seu trabalho. Obrigada por não ter pensado em como seria difícil chegar na Consolação vindo do Morumbi em dia de greve de ônibus e ainda mais segurando um bolo. 

E, como se esse bolo delicioso já não bastasse, obrigada por ter lembrado que eu estava desesperada por um batom novo. (Nem vou falar dos outros presentes para não deixar todo mundo chocado)

Apesar de termos nos conhecido no Maranhão, obrigado por fazer parte dos amigos incríveis que fiz em São Paulo e que tornam a minha vida tão leve e mais cheia de carinho. Quando receber, me avisa e pode pegar meu batom emprestado de vez em quando. 

Beijões,
Seane.


quarta-feira, 21 de maio de 2014

querida Seane,

Foram tantas mudanças na tabelinha do blog nesses últimos dias que tcha-ram, acabei caindo no dia do seu aniversário

Achei um sinal, pois ano passado estava com você na nossa querida São Paulo e essa é a forma de eu estar um tiquinho mais perto de ti hoje - ainda que simbolicamente.

Queria usar meu espacinho aqui pra te desejar ainda muito mais felicidades, que você termine o mestrado, entre no doutorado e vire uma das melhores professoras do mundo (você vai dividir esse título com Carol, acho que aceita). Que você continue encontrando pessoas lindas na sua vida, viaje bastante, tenha sempre muito amor, coma sempre a comida deliciosa de tia Sandra (e as sobremesas maravilhosas de Soraia), tenha muitos gatinhos fofos pra brincar e tempo livre pra ver muitas séries.

Também vou ser um pouco egoísta e desejar coisas pra mim no dia do seu aniversário: que nós duas tenhamos mais lembranças compartilhadas, como a viagem de Curitiba, as idas pra casa de Carol cantando Talking Heads, as aulas de direção, o nosso tempo de trabalho juntas na Maximize, os desejos por trufas da Cacau Show, a admiração pelo latex, o gosto por pop afternoons, as competições de fruit ninja, as tardes de Just Dance com as meninas...

Migs, let's have a Kiki, eu daqui, você daí. Vista seu vestido mais lindo e divirta-se muito. Quando receber, me avisa.

Um beijo bem grande e um abraço super apertado,
Mari.

terça-feira, 20 de maio de 2014

querida Ilha do Caos,

O nome São Luís já não te contempla. Não com esse festival de desmantelo que está rolando por aqui.
Esses dias parece que houve um alinhamento de planetas para que todas, eu disse TO-DAS as suas mazelas se manifestassem ao mesmo tempo. 

É greve de tudo que é classe, assassinatos em plena luz do dia em qualquer lugar, fuga de presos e dilúvios que deixam suas vias intransitáveis (na verdade, basta uma chuva razoável pra isso acontecer). Revoltadas com tudo isso e outros problemas, as pessoas estão indo pra rua protestar, o que deixa as coisas ainda mais caóticas.

Resumindo: cadê aquela cidade que, apesar de um tanto provinciana, era tranquila de se viver?

Deixa disso, tenta voltar ao status de Ilha do Amor e, quando receber, me avisa.


Beijos,

Bel 



domingo, 18 de maio de 2014

queridx,

Ainda não sei qual o seu nome e nem quem é você, apesar de convivermos há um tempinho. Faz pouco tempo essa convivência, na verdade, mas foi o suficiente pra você ter mudado toda a minha vida. O suficiente para você ter se tornado a pessoa mais importante dela. Nesses quase nove meses, você vem me modificando por fora e por dentro. A cada dia uma coisa diferente acontece com você e se manifesta em mim. 

Acho que eu tenho mais consciência da sua existência que você da minha. E espero que, quando você souber quem eu sou, goste de mim. Você me faz querer ser uma pessoa melhor. Me faz querer fazer do mundo um lugar melhor. 

É por isso que tenho me dedicado a coisas outras que não a decoração do seu quarto. É que eu penso que sua vida vai ser no mundo lá fora e que o quarto que vai te receber será apenas um lugar de passagem, que vai durar pouco tempo e não vai fazer parte da sua memória. Você vai se lembrar dele através de fotos... Claro, você vai ter um quarto pra chegar, mas eu quero poder te oferecer um pouco mais. 

Aos poucos você vai descobrir minha história, quem sou eu... aos poucos eu vou descobrir quem é você e espero poder fazer parte da sua história da melhor forma possível. E quando eu não estiver mais aqui, que eu possa ser pra você uma doce lembrança. Uma lembrança leve e cheia de luz. 

E quando eu errar com você, quero que saiba que terá sido sempre tentando acertar. Nunca de propósito. É que a gente erra mesmo. Que você possa ser mais generosx com meus erros do que eu mesma sou. E que você possa ser generosx com os seus próprios erros. Eu não te prometo nada além de tentar te dar o meu melhor. Nada de garantias. Nada de certezas. Apenas tentativas. Não prometo nem que o meu melhor será suficiente pra você. Pode ser que não seja. Mas ainda assim, saiba, eu darei o meu melhor. 

Falta pouco pra gente se conhecer... e aí, a gente vai se descobrir, se inventar, se refazer... se encontrar pela vida. Desde que soube que você existia dentro de mim, eu venho me refazendo... Daqui a alguns dias você vai nascer e eu não consigo parar de pensar na frase que está escrita naquele muro: "quando nasce umx filhx, nasce também uma mãe".

Vai demorar um pouquinho até que você consiga ler essa cartinha, então, vamos deixar combinado assim: peço que sua madrinha lhe entregue, quando ela achar que é hora. Foi, aliás, porque ela passou um tempo lá em casa, no antigo ap 23, da Rua Fidalga 526, que eu decidi que queria ser mãe. Era tão gostoso dormir sabendo que eu ia acordar e ela estaria lá, sempre me dando bom dia com a melhor cara do mundo! Acho que ela foi, de certo modo, minha primeira filha. Então é isso, filhx, quando receber, me avisa?


Beijos,
Lieli Loures.










Lieli é jornalista e eterna aspirante a escritora. Encontrou seu lugar no mundo pelo feminismo, mas vira e mexe se sente um peixe fora d’água. Adora pintar o corpo pra esconder as cicatrizes da alma, adora correr na rua pra ver se um dia foge de si, adora arte de rua porque ela está em constante movimento. Adora quindim e está prestes a estrear sua versão mãe.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

queridos amigos do leste das Américas,

É sempre uma delícia estar com vocês. Uma semana é pouco tempo, mas é mais gostoso justamente por ser intenso. É muito bom saber que tenho pessoas queridíssimas sempre me aguardando, sempre dispostas a pegar um ônibus pra lá das 22 pra ver um show no centro da cidade, no meio do caminho desistir do aglomerado e sentar num bar de bairro e tomar umas cervejas. Por vocês eu tomo até cerveja. 

É uma delícia também encontrar aquele que vibra na minha frequência, que lê meus pensamentos, que chora de rir com piadas sem graça, que vai comigo ao espetáculo da Turma da Mônica no shopping...

Por vocês eu supero esse fuso horário que faz amanhecer antes das 5 e anoitece antes das 17. Esse fuso tem um gostinho de saudade dos anos que habitei essas terras.

Quando receberem, avisem e saibam que eu sempre darei um jeito de voltar ao Seixas. 

Amo todos vocês.
Beijos,
Carol


quarta-feira, 14 de maio de 2014

querido maio,

Eu sei que você está acostumado em ser o meu mês. Mantemos esse combinado desde o meu nascimento. Sei também que você está passando extremamente rápido para eu não ficar tão pobre, pra variar, e para que o dia 21 chegue logo, para comemorarmos.

Mas, esse ano, queria te avisar que precisamos revisar esse combinado. Tem uma criaturinha que está pra nascer. E, pensando bem, eu queria muito que ela nascesse ainda em maio e fosse geminiana que nem a madrinha.

Me assusta um pouco pensar no futuro e na vida dela, mas queria muito conhecê-la logo. Pois tenho as mãos geladas e toda vez que tento sentir um chutinho, ela fica quietinha em protesto.

Quando receber, me avisa para eu ajudar a providenciar as coisas do parto.

Beijos,

Seane.

terça-feira, 13 de maio de 2014

querida Olá,

Esse símbolo não me engana, você é a prima portuguesa da Kibon! Sendo assim, por que não partilhar alguns produtos da sua parente tupiniquim aqui em terras lusas?

É que vem chegando o verão e a sua oferta é cheia de cornettos, magnuns, sorvetes cheios de chocolate, creme, caramelo, biscoito e, olha, no calorão que vem por aí, se eu comer uma coisa doce desse jeito, vou, sei lá, sufocar...

Sinto tanta falta dos fruttares, dos frutillys, do chicabon, do picolé de coco. Veja como estes funcionam muito melhor no verão, Olá! Não é justo privar os portugueses de novas experiências.

E já agora, aproveitando a cartinha, um recado para a Kibon: que tal lançar uns fruttares de cupuaçu e bacuri? Ia ser sucesso, anota aí!

Espero que me dêem ouvidos e não se esqueçam de mim quando notarem a genialidade das minhas ideias. Quando receberem, me avisa. E mandem os picolés!

Beijinhos,
Mari.



domingo, 11 de maio de 2014

queridas mamães,

Mãe, sei que esse é um dias das mães atípico. É o primeiro sem a tua mãe e é o primeiro em que não poderei passar o dia inteiro contigo. Mas o Jota e a Magda estarão aí dando trabalho e abraços apertados. Hoje eu quero mais uma vez agradecer por ter criado nós três com toda essa dedicação de mãezona. Agradecer pelas renúncias feitas por ter sido mãe adolescente, por dobrar esse mau humor matinal quando a gente faz piadas no café. Obrigada por ter paciência para sentar com cada um de nós toda manhã para tomar café. A gente poderia facilitar e acordar no mesmo horário, admito, mas como tu mesmo diz, mãe é bicho besta. E nós adoramos essas besteirinhas diárias. É por isso que te amamos todos dias.

Te amo,
Carol.

O tanto que a gente se parece é o tanto que a gente se estranha. Mas também é o tanto que a gente se ama. É nas pequenas atitudes de todo dia que isso fica claro e me confirma que todo esforço vale a pena para perpetuar essa nossa relação sagrada. Já passei do tamanho de dançar reggae colada na sua cintura, mas aqueles e todos os seus outros passos ainda reverberam em mim.

Amo você,
Izabel.

Oi, mamis, tudo bem? Sabia que domingo passado é que foi o Dia da Mãe aqui em Portugal? Bom, deixei pra desejar feliz dia só hoje, porque passei a minha vida inteira no "Dia das Mães é no segundo domingo de maio" e não fazia o menor sentido mudar a data essa altura do campeonato, francamente. Poderia usar o espaço pra dizer mais uma vez que te amo e que tô mortinha de saudades, mas vou contar que cada vez mais tenho certeza que "sou mesmo filha da minha mãe". Lembra quando eu estava aprendendo a dirigir e soltava o volante só pra enfatizar que "esse carro tá puxando!!!" igual você sempre fez? Pois bem, semana passada me perguntei se existe durepoxi aqui, porque queria consertar umas coisas no apê. E com quem aprendi a remendar tudo com durepoxi? Isso mesmo, com você! É como dizem: quem sai aos seus não degenera, hehehe!

Te amo,
Mariana.

Mamy, você tem certeza que não é judia? Talvez hoje não fosse o dia ideal preu te fazer essa pergunta, mas não consegui mais resistir. Por que toda vez que penso em você, na minha infância e na criação que eu recebi, eu não consigo deixar de lembrar do seu "terrorismo" pra nos fazer comer comidas saudáveis e para colocar a gente pra dormir depois do almoço. Não estou querendo insinuar que desenvolvi algum complexo de Portnoy, mas até hoje me sinto mal se deixo algo no prato e sempre PRECISO tirar um cochilo depois do almoço. Tudo isso veio de você. Sabe, essa semana me peguei falando mal da casa suja e pensando quase em voz alta que "não dá pra viver na imundice". Isso também é você. Outra coisa que não lhe contei é que ontem uma garota norte-americana, que estava hospedada na minha casa, foi embora. Ela estava aqui enquanto encontrava um lugar legal para morar em São Paulo. Um amigo que me pediu pra ajudá-la e eu sabia que não podia dizer não. E isso, mamy, também é você. Obrigada por ser tão linda e por ter esse coração tão grande que me chateava muito na infância quando eu ia procurar meus brinquedos e descobria que você tinha doado. Hoje, eu não tenho mais brinquedos.

Te amo,
Seane.

Feliz Dia das Mães! Amamos vocês.

Quando receberem, avisem.

Um abraço bem apertado e muitos beijinhos,
Carol, Izabel, Mariana e Seane.

sábado, 10 de maio de 2014

querido Bob Marley,

Daí do paraíso,  perto de Jah, você pode não saber, mas sua importância para a minha história é bem maior do que ser trilha das festas de reggae daqui da Jamaica Brasileira.

Se o som da minha infância tivesse nome e sobrenome, seriam os seus. Mamãe,  uma regueira que não frequentava clubes nem shows do gênero,  fazia a própria festa sozinha, à noite,  no fim de semana, pra relaxar duma semana de trabalho, ou de manhã cedo, pra embalar o começo das tarefas domésticas.

Acho que o bairro todo sempre soube desse costume e eram, sem querer, parte do ritual, já que o volume do som lá de casa facilmente alcançava vários dos nossos vizinhos.

O tempo passou e o hábito permaneceu. Se pequena eu aprendi a dançar suas músicas agarrada na cintura da minha mãe, hoje eu não só passo dela em tamanho como a levo ao tributo que todo ano rola em São Luís.

Lembrar de você e da sua musica é como lembrar dum tio mais velho, um parente gente boa que já não anda assim tão presente, mas que é sempre bem recebido quando aparece.

Que você continue sendo nossa companhia constante e, quando receber, me avisa.

Beijos,
Bel

quinta-feira, 8 de maio de 2014

querida vovó,

Faz três dias que você não me liga. Eu poderia ir na sua casa cobrar atenção, mas dessa vez não a senhora vai estar lá. 

Se a gente for considerar todos os sentimentos e ações que a ideia de avó pressupõe, você foi a minha única avó. A que mais se dedicou aos filhos das filhas, que viu a gente (os netos) crescer, que nos defendeu das palmadas, que nos deu palmadas na hora certa, que trocou nossas fraldas, que acompanhou nossas febres, que torceu pela gente, que nos amou incondicionalmente. Que cozinhou como ninguém. 

Quando o seu ritmo diminuiu, quando sua circulação falhou em um AVC, nós chegamos a pensar que fosse o fim. Mas você venceu o AVC, um câncer e os problemas pulmonares. A sensação de que te perdíamos aos poucos andava junta com a sensação de imortalidade. Quando a senhora se foi, ficou um imenso vazio. Vazio na minha rotina de atender sua ligação de cinco a dez vezes por dia para perguntar as mesmas coisas.

A minha dor só não é maior que a alegria de saber que agora a senhora está livre, não precisa mais juntar forças para lutar pela sobrevivência. Não precisa mais da cadeira de rodas, daquela quantidade absurda de remédios, do balão de oxigênio ao lado da cama.

Agora a senhora está livre. E eu estou muito feliz por ti.

Quando receber, me avisa.

Com muito, muito amor.
Carol.

terça-feira, 6 de maio de 2014

queridos amigos do Facebook,

Desculpem-me pelo envio de solicitações de Plants Vs Zombies! Mas não posso parar, não até receber três ajudas, pelo menos.

A maior parte de vocês já me acompanha no Facebook há pelo menos um ano e sabe que não me comporto normalmente assim. Vocês estão certos e, acreditem, eu detesto enviar solicitações, mas gostaria que entendessem minha situação delicada.

Estou sendo ameaçada. A pessoa que me ameaça disse que não me deixará em paz até que eu chegue na fase 21...

Tá, mentira. Estou apenas viciada. E o Facebook é a única oportunidade que eu tenho de jogar Plants vs Zombies, pois o meu celular não é compatível com o aplicativo (isso é o que o google diz, rum!). Mas, para isso, preciso constantemente da ajuda de amigos.

Portanto, daqui pra frente, pensem com carinho ao ver uma solicitação. Quando receberem esta cartinha, me avisem. Mas quando receberem uma solicitação, apenas cliquem.

Abraços,

Seane.


domingo, 4 de maio de 2014

querida Xuxa,

Andei desconfiando que todos aqueles decotes e botas estilo Elke Maravilha talvez tenham desgraçado um pouco minha cabeça a longo prazo. 

Bom, talvez a própria visão de Elke Maravilha não tenha ajudado muito a minha infância. Não sei, mas essa minha teoria maluca pode ser dividida em pelo menos três pontos cruciais. 

Primeiro: a pitoresca cena de “SuperXuxa contra o Baixo Astral” com você se contorcendo e gemendo na “Almofadona” (uma poltrona falante - e lasciva) em agonizante saudade do seu cachorro perdido, o Xuxo. Esquizofrenia e luxúria correndo soltas. Devo dizer que passei boa parte de minha vida consumido por este questionamento: houve verdadeiramente a necessidade? 

Segundo: o fatídico dia em que testemunhei um pastor desses de igreja revelando os mais estratosféricos detalhes sobre a sua vida nos bastidores: um tal de pacto com o diabo e músicas do avesso; boneca macabra que arranhava as menininhas... o sinistro lance da previsão da morte do Senna. Morreremos sem saber quanto disso afinal é verdade? 

Terceiro e finalmente: a inquietante entrevista que você concedeu a Pedro Bial onde é possível vê-la cavalgar um cachorro. Cavalgar. Um. Cachorro. Viu só? há lacunas demais! Nos ajude, Xuxa, a entender. 

Mas seja como for, quando receber, me avisa.

Beijo, 
Davi Coelho











*****
Davi Coelho é dono de um Apontador Cego, de um blog sobre cinema, de um imã para auto-sabotagem. Atende como Davi, Dave ou Daver. É primo do Roger Rabbit.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

querida festa da firma,

Sempre fui cheia de preconceitos com você, sabe. Não me culpe, é que normalmente se imagina a "festa da firma" como um evento mais ou menos, onde o povo do trabalho se reúne pra falar de trabalho tal e qual no escritório, só que bebendo.

No formato padrão, sempre tem o chefe que repara no comportamento de todo mundo, o colega que exagera na bebida e fica chato, o que dá em cima de todo mundo e acaba levando uma dura da esposa, o metido a DJ e quer dominar o som, a que toma conta da pista de dança (isso quando as pessoas resolvem levantar e dançar)...e por aí vai.

Maaaas na agência, as coisas são bem diferentes! Ao menos na primeira que fui, dia desses. Quando a galera é da zueira e quem comanda o som é profissional, as coisas normalmente ficam mais interessantes. Até o namorado dançou!

Fique sabendo que, graças a essa, estou revendo conceitos. Espero estar menos quebrada na próxima, pra poder aloprar ainda mais e finalmente passar a gostar de fato de você.

Vai preparando a playlist e os drinks da próxima edição e, quando receber, me avisa.

Beijos,
Bel









quinta-feira, 1 de maio de 2014

querido 1994,

Queria lembrar de você inteiro, não em fragmentos. Você deve ter sido o ano que mais concentrou eventos midiáticos importantes nos anos 90 para o Brasil. Talvez eu não tenha idade suficiente para fazer esse tipo de julgamento, mas veja o seu corpinho, os fatos que marcaram você e diga se não faz sentido. 

Pouco depois de você ter chegado, eu completei 6 anos. Por causa da pouca idade, não sei se acompanhei com consciência os fatos marcantes ou se sonhei com eles já que a tv sempre nos bombardeou. 

Durante anos, acreditei ter assistido o acidente da morte do Senna na hora em que ele aconteceu. Mas com o tempo fui percebendo que Fórmula 1 é complexa demais para uma criança. Devo ter visto no jornal, na Xuxa, no plantão da Globo, enfim, em tantos programas que devo ter, inclusive, sonhado com ele. Talvez esse bombardeio tenha cravado na minha memória aquela balançada de cabeça que o piloto deu logo após o acidente. Deve ter sido um reflexo do corpo, mas deixou a impressão de que não tinha sido nada de grave. Não lembro dele vencendo ou brigando com os adversários. A lembrança mais viva na minha mente é a da sua morte. 

Foi com você, 94, que veio o tetra. Outro evento que pouco me lembro. A única coisa que ficou de marcante foi o grito alucinante de todos que estavam na varanda do sítio dos meus avós quando o moço de cabelo comprido vestido de azul e branco errou aquele pênalti. Acho que fui arremeçada do colo de alguém, mas não tenho certeza . Comemorei, mas com as mãozinhas tapando os ouvidos, provavelmente. E só disso me lembro. 

O fato que eu me lembro muito bem foi a minha primeira experiência com dinheiro. Era agosto e o Brasil tinha um novo dinheiro: o real. Eu sempre levava meu lanche, mas nesse dia, fora o lanche, meu vô havia me dado 1 centavo de real. Feliz e serelepe, perguntei para a moça da cantina o que eu poderia comprar com 1 centavo no que ela riu e me deu uma balinha, mas não pegou meu dinheiro. Achei estranho, mas talvez ela não tivesse troco pra 1 centavo. 

Faz o seguinte, 1994, quando receber, equipare 1 dólar a 1 real e me avisa.

Beijos,
Carol