domingo, 5 de outubro de 2014

querido colaborador da NET,

Ao qualificar como “inacreditável” sua oferta de conexão mais rápida, provavelmente o senhor já havia procurado conter minhas expectativas sobre o serviço que é obrigado a oferecer.

Sei que o senhor não tem opção ao tentar vender serviços cuja qualidade não dependem das (nem são garantidas pelas) suas palavras. Talvez se o senhor pudesse escolher como empregar seu tempo e sua lábia, poderia dedicar seu talento para convencer seus interlocutores de verdades mais importantes – como o fato de que a distância entre a realidade e as promessas é tão grande quanto os 0s e os 1s binários que aguardam sua saída ou chegada no meu roteador. Mas talvez verdades assim não rendam tanto quanto propagandas de conexão; porque, afinal, queremos acreditar que é possível conectar-se aos outros como o senhor acessou meus instintos de confiança infantil e crédulo otimismo.

Essa carta ainda aguarda o retorno da conexão para ser enviada, mas já cumpre o mesmo efeito tranquilizador (e a mesma ineficiência) de um ataque enfurecido pelo telefone contra quem não é culpado de nada além das limitadas possibilidades de trabalho para seu talento em ouvir ofensas sem reagir fora do roteiro de respostas programadas.

Quando receber, me avisa por sinal de fumaça, ou pombo correio.

Ivan.










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Ivan Paganotti é jornalista, professor, doutorando em ciências da comunicação na USP e autor do blog 8 frases.

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